Quem me acompanha aqui no Blog sabe que sou uma estudante de medicina apaixonada por literatura e que além disso tenho interesse especial em livros que retratem de alguma maneira temas médicos. Há muitas Obras famosas de livros desse tipo, como O Físico, mas há muitos ainda desconhecidos como é o caso desse livro sobre o qual irei falar um pouco neste post: Os Mil Outonos de Jacob de Zoet, do autor inglês David Mitchell.
Quando estava passeando pela Saraiva, bati o olho na linda capa do livro "Os Mil Outonos de Jacob de Zoet" já fiquei com vontade de ler, e ao longo do livro fiquei mais feliz de tê-lo escolhido como leitura porque encontrei um relato incrível da prática médica do século XIX, num contraste cultural entre Oriente (Japão) e Ocidente (Holanda). Então vou compartilhar com vocês um pouco da minha leitura e alguns pontos que achei bem marcantes dessa obra, espero que gostem e se interessem pelo livro!
Sinopse do Livro "Os Mil Outonos de Jacob de Zoet feita pela Companhia das Letras
"O pano de fundo exótico para esta trama é o Japão da virada do século XIX. No ano de 1799, o império japonês está totalmente fechado aos estrangeiros, com uma única exceção: na ilha artificial de Dejima, na costa de Nagasaki, seus últimos parceiros comerciais europeus, os holandeses, mantêm uma feitoria. Em busca da fortuna que lhe permitirá casar-se com sua amada Anna, o jovem escriturário Jacob de Zoet parte de navio para o Oriente e acaba sendo incumbido por seu tutor da missão de investigar os registros de Dejima em busca de evidências de corrupção.
Impedido de praticar a fé cristã, ridicularizado pelos japoneses e hostilizado pelos colegas europeus que tem o dever de investigar, Jacob se sente mais isolado que nunca. Ao mesmo tempo, conhece aos poucos uma galeria de personagens marcantes que inclui o trambiqueiro Arie Grote, o samurai e intérprete Ogawa Uzaemon e o erudito botanista dr. Marinus. Sua situação se complica definitivamente quando ele se apaixona por uma jovem parteira e estudante de medicina, Aibagawa Orito, uma moça intrigante que tem o rosto parcialmente queimado. Quando Orito é raptada pelo sinistro abade Enomoto e Jacob se descobre vítima de sua própria ingenuidade e retidão moral, desvela-se uma trama repleta de paixões proibidas, traições, culpa, assassinatos, intrigas políticas e segredos de uma ordem espiritual que pratica horrores indizíveis.
Escrito com grande atenção aos detalhes, numa prosa repleta de episódios cômicos e reflexões filosóficas e históricas, Os mil outonos de Jacob de Zoetmostra por que David Mitchell é considerado um dos grandes autores contemporâneos de língua inglesa. Eleito um dos melhores jovens escritores britânicos pela revista Granta em 2003 e indicado a diversos prêmios importantes (foi duas vezes finalista do Man Booker Prize, com o cultuado Cloud Atlas e depois com Os mil outonos de Jacob de Zoet), Mitchell é dono de uma imaginação quase ilimitada e de um estilo cristalino e vívido, com o qual transita fluidamente entre gêneros como o romance histórico, a ficção científica e o romance de formação. "
Resenha do Livro "Os Mil Outonos de Jacob de Zoet"
Como vocês puderam ler na Sinopse oficial do livro, essa obra é de um gênero de aventura, mas com boas doses de romance, ficção, história e filosofia. O personal central é Jacob de Zoet, um Neozelandês, que vive trabalha para a Companhia das Índias Orientais da Holanda. Ele parte para a feitoria Japonesa para ajudar como escriturário e fiscalizar o posto contra fraudes nos registros comerciais, mostra a cada dia sua honestidade e não compactua com muitas negocicações corruptas que se desenrolam ao longo da narração.
Essa feitoria em Nagasaki é uma pequena ilha comercial, chamada de Dejima, separada da cidade em si. Os holandeses e trabalhadores da Companhia das índias ficam separados da população japonesa e não tem livre acesso a Nagasaki e outros territórios. Nessa ilha, além de armazens, alojamentos, lojas e bares, há um Hospital cujo médico chefe é o Dr Marinus o qual é também botânico e professor de Medicina de um grupo de cinco jovens japoneses – dentre os quais está uma jovem parteira Orito Aibagawa. Ela conquistou o direito de estudar Medicina, algo proibido a mulheres, pois salvou a vida da esposa e do filho do governador da cidade durante um trabalho de parto difícil, e então passa a estudar com o Dr Marinus que é Holandês.
Jacob de Zoet conhece a parteira Orito numa situação em cômica e logo se apaixona pela moça, a partir daí faz de tudo para se aproximar do médico Marinus e da jovem estudante de Medicina, participando inclusive como "cobaia" em aulas que o médico promovia. Além disso, Jacob fica amigo do samurai e intérprete chamado Ogawa Uzaemon, com ele vai aprendendo um pouco do idioma japonês e dos kanjis e também sobre a cultura e tradições daquele país misterioso com o qual está fazendo comércio. Há muitas reflexões feitas sobre liberdade, poder do governo e amor nos diálogos entre Ogawa e Jacob, assim como filosofias sobre Filosofia e ciência nas falas do Dr Marinus, e isso enriquece a leitura desse livro incrível.
O livro segue mostrando a rotina na feitoria de Dejima, as negociações e difíceis dialógos entre Japão e Holanda, o poder dos chefes magistrados que dominam regiões do país. Aliado a isso, o romance consegue nos contar muito sobre como estava o progresso da ciência e dos conhecimentos de Medicina na época, e nos narrar a história de amor entre Jacob e Orito e outras que vão sendo reveladas. No decorrer do acontecimentos, cada um dos personagens vai contando também sua história de vida e desventuras até o momento, o que dá uma grande densidade à obra. Para quem gosta de ouvir histórias, muitas vezes fantásticas, esse é um ótimo livro e que com certeza vai prendê-lo na leitura.
Temas abordados e Comentários sobre o Livro "Os Mil Outonos de Jacob de Zoet"
- Como disse acima na resenha, o tema "Medicina" está super presente, especialmente nas aulas do Dr Marinus. É interessante lermos os relatos de certos tratamentos feitos na época e da prática cirúrgica de 1800 realizada ainda sem anestesia ou qualquer preocupação com assepsia!
- Outro ponto interessante é como Orito enxerga a importância da ciência e da educação para melhorar a vida da população, ela como parteira sabe que muitas mortes poderiam ser evitadas com progressos nessa área da Medicina.
"Em dias antigos, diz a stra. Aibagawa, muito atrás, antes de pontes grandes construídas em cima de rios largos, viajantes se afogavam muitas vezes. Pessoas diziam: 'Morre porque deus do rio é irritado'. Pessoas não diziam: 'Morre porque pontes grandes não estão inventadas'. Pessoas não diziam 'Morre porque temos muita ignoração'. Mas, um dia, ancestrais sábios observam teia de aranha e tecem pontes como videiras. Ou ver árvores que caíram em cima de rios largos, fazem ilhas de pedra e deitam árvore de uma pedra para outra. Constroem pontes assim. Pessoas não morrem mais em rio perigoso, ou bem menos pessoas. (…)
Hoje, no Japão, quando mãe, ou bebê, ou mãe e bebê morrem em parto, pessoas dizem: 'Ah.. morrem porque deuses decidem assim' (…) é igual ponte. Razão verdadeira de muitas, muitas mortes por ignoração. Desejo construir ponte… Um dia, eu ensinar esse conhecimento… fazer escola e em futuro, no Japão, bem menos mães morrem de ignoração."
- Liberdade é uma dos temas que identifiquei na obra, principalmente nos diálogos entre Ogawa e Jacob, ambos refletem sobre suas limitações de escolha e caminhos que tiveram que seguir por conta de suas obrigações, compromissos e tradições – por exemplo, Ogawa não pode sair de Nagasaki e conhecer outros lugares e não pode se casar com quem amava. Outro momento em que a Liberdade é discutida é com o Dr Marinus em sua defesa contra a escravidão.
- O contraste cultural daquela época entre Oriente e Ocidente é sempre mostrado nas negociações entre os holandeses e japoneses, na descrição dos costumes, crenças etc.
Espero que tenham gostado da resenha e que aproveitem a dica de leitura, termino com uma frase desse livro que gostei bastante: "A barriga precisa de comida, a língua precisa de água, o coração precisa de amor e a mente precisa de histórias. São as histórias, ela acredita, que permitem que seja tolerável viver"
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