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Arte e Ciência na Prática da Medicina – Olhar Humanístico na Profissão

Na primeira semana de aula eu tive o prazer de visitar o Museu da Faculdade de Medicina da Usp, estava ainda deslumbrada com a ideia de ter passado no vestibular que não pude refletir muito sobre o que vi naquele dia. Hoje (nesse feriado prolongado de Corpos Christi) estava mexendo no meu armário (realmente ele precisava de uma arrumação!!!), quando encontrei um livro que recebi naquela visita, ele fala sobre o lado mais Humano e Artístico da Medicina… resolvi lê-lo e agora compartilho um pouco dessa leitura com vocês…

A exposição e o livro são incríveis, o tema é “Arte e Medicina: Interfaces de uma Profissão”, sempre fui da opinião de que a Medicina deve ser praticada com mais humanidade do que cientificismo, com uma relação médico paciente não de poder, mas de troca, de mutuo conhecimento… Bom, esse livro expressa, mil vezes melhor do que eu, como a Medicina depende desse olhar humano, da comunicação, da Arte e da Historia….

 

A Pratica medica vai alem da utilização de conhecimentos técnicos, da ciência puramente dita. Olhares mais atentos podem enxergar que muito da profissão do Medico envolve sua capacidade de entender o outro, não apenas como paciente, mas como uma pessoa que tem aflições, medos, esperanças…

Uma boa metáfora sobre a ação do médico, que é citada no livro, é a de “ler e decifrar os sinais do ou no corpo”, o que envolve procurar explicações nos “rastros do passado humano, ou seja, uma arte de fazer ver, naquilo que não esta revelado, como terão sido os tempos passados” (da pessoa).

Esse trecho destaca, de forma bem lirica, a importância da historia e compreensão da realidade do outro:

“O homem aparece num determinado tempo e espaço, com seus limites humano que se move e que pode vir a se desequilibrar. Assim, no campo medico, a historia e a medicina passam a dar as mãos pela Anamnese, o resgate da nevoa que envolve o corpo e diz respeito a historia de todos nos.” (Para quem não conhece a Anamnese é quando o medico faz o histórico do paciente, com informações da moléstia atual, seus antecedentes etc).

A linguagem, nesse sentido, também é de suma importância e significado na pratica medica. O medico:

“aprenderá e praticará lê-las, ouvi-las, apreende-las, aprecia-las, interpreta-las, atribuir-lhes significado, contextualiza-las, reproduzi-las, identificar nelas padrões e incoerências, emocionar-se e empatizar com elas. Descobrira, inclusive, que as narrativas são centrais na sua vida profissional quotidiana: a pratica medica se faz de historias, aquelas que lhes contam, verbal e não-verbalmente, seus pacientes, e aquelas que os médicos lhes contam, aos pacientes, em troca. O medico ajuda o paciente a contar sua historia, a dar sentido a ela e reconta-la com as devidas mudanças que qualquer terapêutica exige. Enfim, o medico é o leitor/expectador/ouvinte do paciente-texto, paciente-quadro, do paciente-sinfonia, do paciente-filme.”

O central do que eu captei desse parte do livro foi que na pratica da Medicina, precisamos olhar o outro, perceber nele os sinais das aflições e conversar… Muitas vezes, a pessoa busca o medico, mas não sofre de uma doença física, por vezes ela só quer ser ouvida (isso acontece muito com pessoas idosas e carentes que já não tem os filhos ou companheiros por perto).

A Arte é uma linguagem que exprime sentimentos, perspectivas sobre a realidade. Ao analisar uma cena do filme Diários de Motocicleta, por exemplo como fez minha  professora em certa aula, vê-se no atendimento de uma senhora idosa acamada o olhar e cuidado do medico que se identifica com a doente. No filme, ele refletiu sobre como ela deveria ter vivido ate aquele momento, sobre sua enfermidade – a asma, sobre com lutou para manter sua dignidade. A cena não envolve dialogo entre o medico e a paciente, mas somente pela sensibilidade quanto ao sofrimento e procura de compreensão, o medico fez um atendimento humano e ajudou a senhora….

The Doctor”,1891; Samuel Luke Fildes (1844-1927), Óleo sobre tela, Galeria Tate (Londres)

O quadro “The Doctor”, da foto acima, também traz uma experiencia bela e forte sobre a ação do medico, seu pintor Samuel Luke Fildes  retratou uma criança enferma (já a beira da morte), essa obra de arte foi inspirada no drama que o próprio pintor viveu com o falecimento do seu filho na noite de natal de 1877. O quadro foi uma homenagem do pintor ao médico prestativo que assistiu seu filho até a hora da morte.

Termino esse post com uma mensagem do médico e poeta americano que viveu no século 19, Oliver Wendell Holmes, que resume o sentimento desse texto sobre o lado Humanístico da Medicina: “A função do médico é curar, às vezes; aliviar, frequentemente; confortar, sempre”.

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Bianca: Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!
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