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Hepatites  Crônicas – Quadro Clínico e Diagnóstico

As doenças hepáticas crônicas são caracterizadas por um processo inflamatório que não se resolve num perído de 6 meses de acompanhamento ou de evolução da história, causando assim lesão no parênquima hepático, na árvore biliar ou nos vasos adjacentes. No post de hoje, irei explicar quais os possíveis diagnósticos diferenciais para Hepatites Crônicas, com quadro clínico e principais exames para se investigar. Espero que gostem do resumo e fiquem a vontade para mandar dúvidas sobre o tema para o ABC da Medicina.

Resumo

Quadro Clínico das Hepatites Crônicas

Em geral, os sintomas são inespecíficos, intermitentes e brandos, sendo que uma parte dos pacientes nem apresenta sintomas de doença hepática. O processo arrastado vai lesando o órgão até que ele entre em falência e os sintomas graves apareçam, ou então, os sintomas aparecem quando há uma crise aguda pela inflamação prolongada.

O sintoma inicial e inespecífico mais comum é fadiga, pode haver também problemas de sono e de concentração. Se houver dor, ela é caracteristicamente em quadrante superior direito, usualmente é intermitente. Devido aos poucos sintomas, o diagnóstico dessas hepatites costuma ser feito após exames laboratoriais sanguíneos de rotina, durante um outro processo de saúde ou quando se vai doar sangue.

Os sintomas de doença avançada ou de uma crise de exacerbação são náusea, diminuição do apetite, perda de peso, fraqueza muscular, icterícia e prurido. Caso haja cirrose concomitante outros sintomas seriam edema, ascite, sangramentos gastrointestinais, fraqueza e encefalopatia (com confusão mental no início do quadro).

Os sinais de hepatopatia crônica são mínimos, incluindo amolecimento do fígado que evolui para fígado mais endurecido nos quadros avançados com outros achados como esplenomegalia, Spiders (teleangectasias), eritema palmar, ascite e ginecomastia em homens.

Alterações gerais nos exames laboratoriais que sugerem Hepatopatia Crônica:

  • Elevação de aminotransferases (ALT e AST) de ate 5 vezes, sem aumento da fosfatase alcalina;
  • Durante exacerbação as aminotransferases podem estar muito aumentadas (10 a 25 vezes), confundindo com um quadro essencialmente agudo;
  • Gama-glutamil transpeptidase está têm elevação mínima, a menos que haja cirrose – além de ter alta relação com hepatopatia alcoólica;
  • Bilirrubina e albumina são normais, menos em caso de doença avançada (insuficiência hepática) que leva à aumento da Bilirrubina e diminuição da albumina.
  • Imunoglobulinas estão normais ou pouco aumentadas nas hepatites virais, mas muito elevadas nas hepatites autoimunes
  • Contagem de células sanguíneas estão normais, porém quando há cirrose ou hipertensão portal pode haver consumo de células brancas e plaquetas;

Principais Causas/Etiologias e Como fazer o Diagnóstico

A) Hepatite B

O vírus da hepatite B tende a causar uma infecção crônica, ou seja, que persiste no organismo. A transmissão desse microrganismo é dada por contato sanguíneo (em ferimentos, cirurgias), por secreções corpóreas (por exemplo contato sexual) e transfusões sanguíneas.

Sendo o VHB um vírus de DNA, este se integra ao DNC celular e permite que haja diversas agudizações de sintomas. Outro ponto a ser destacado é a hepatite B crônica e o risco maior de se desenvolver câncer de fígado.

  • Primeiro há a suspeita pelos achados laboratoriais acima descritos, para diagnóstico deve ser pedido sorologias do VHB: AgHBs (marca a presença do vírus), AgHBe (marca replicação viral), AcHBs (marcador de resposta imunológica). Se os antígenos (Ag) vierem positivos, é preciso confirmar a doença por PCR para quantificar o DNA viral e por biópsia de fígado.
  • Formas de Infecção presente:
  1. AgHBs positivos, AgHBe positivos, DNA viral mais do que 20.000, AgHBc presente na biópsia de fígado: doença ativa
  2. AgHBs positivo e AgHBe negativo, com DNA viral de 2.000 para coma e AgHBc presente na biópsia de fígado: doença ativa (em remissão)

Quadro das Hepatites Virais

B) Hepatite C

Infecção acusada pelo vírus da Hepatite C (VHC) que é pequeno, de RNA e transmitido por contato sanguíneo (principalmente transfusões, em usuários de drogas injetáveis). Apresenta-se como uma forma de infecção crônica na grande maioria dos pacientes, uma pequena parcela pode evoluir para cirrose (5-20%) e desses, poucos evoluem para carcinoma hepatocelular. O diagnóstico é feito por sorologia positiva (presença de anticorpo para o VHC, o anti-VHC), elevação das aminotransferases citadas acima e PCR para quantificar o RNA viral presente no organismo.

C) Hepatite D

Infecção de difícil tratamento, acontece exclusivamente associada a infecção por Vírus da Hepatite B – o vírus RNA consegue se replicar apenas na presença de AgHBs. É a hepatite menos comum, porém a mais agressiva. O diagnóstico é feito pela presença de anti-VHD e presença de AgHBs, normalmente o AgHBe está negativo porque o vírus D inibe a replicação do vírus B.

D) Hepatite Autoimune

Inflamação crônica de causa desconhecida, caracterizada pela presença de autoanticorpos, altos níveis de Imunoglobulinas no plasma é frequentemente associada a outras doenças autoimunes, sendo mais comum em mulheres. Há dois tipos de doença: a Tipo 1 (clássica) e a Tipo 2 (mais encontrada na Europa e em mulheres jovens/crianças). Trata-se de uma doença progressiva que pode evoluir para hepatopatia severa se não tratada.

O diagnóstico é feito pelos critérios de suspeita comuns a todas as hepatites crônicas e pela presença de: anti-músculo liso e anti-nuclear (tipo 1), anti-LKM1 e anti-citosol hepático 1 (nas formas tipo 2). Além disso a biópsia ajuda a confirmar com presença de infiltrados de células inflamatórias no parenquima.

Imagem ilustrativa da Cirrose e suas alterações estruturais

Observação: Outras causas de hepatite crônica que não comentei são: a Doença gordurosa não Alcoólica, caracterizada por uma esteatose hepática que se correlaciona com obesidade e síndrome metabólica e pode trazer riscos de cronificação e evolução para cirrose; e a Hepatite alcoólica, classicamente conhecida e cuja evolução passa por esteatose hepática, inflamação crônica, cirrose e possível complicação para Hepatocarcinoma.

Espero que tenham gostado das informações do resumo, se tiverem dúvidas sobre o tema, podem escrever para o ABC da Medicina!!!

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Bianca: Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!
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