Há vários livros que abordam temas humanos, principalmente com reflexões sobre a Sociedade – como funciona uma organização, o pacto social, questões e disciplina e valores etc – procurando refletir sobre nossas ações, nosso pensamento e percepção do mundo. Recentemente li "O Senhor das Moscas" de Willian Golding, que é um desses livros que citei … E é uma Obra que nos marca muito, chega a chocar em muitos momentos, pois revela os lados mais obscuros da humanidade, sua sede por poder, o que somos capazes de fazer na luta pela sobrevivência… são tantos temas abordados, numa óptica psicológica profunda dos conflitos humanos….
Então, aqui compartilho um pouco do que depreendi da leitura, trechos interessantes para reflexão, um resumo e Análises críticas valiosas que encontrei na internet .. Creio que esse Livro trata de questões que podem ser comparadas a fatos e ações da contemporaneidade, assim da leitura podemos traçar paralelos que analisam aspectos de nosso tempo e de nossa natureza … Fica a dica de leitura!!
Resumo e Análise Crítica de "O Senhor das Moscas"
O Contexto Histórico da obra de Golding foi o dos primórdios da Guerra Fria a qual se iniciou após a 2ª Guerra Mundial – na disputa entre democracias e totalitarismos. "O Senhor das Moscas" foi publicado em 1952 e traz muito do sentimento de desamparo do pós-guerra, pois a história começa com aqueda de um avião que havia deixado a Inglaterra após um bombardeio nuclear. Apenas um grupo de crianças sobrevive ao acidente e passam a viver numa ilha isolada, o enredo aborda as primeiras impressões da liberdade e do medo do desconhecido, a necessidade de organização para o convívio social e meios para que fossem resgatados. Tais meninos estabelecem uma frágil sociedade "democrática", porém surge uma luta pela liderança que divide esta comunidade e instaura um violento conflito entre as crianças. Há um filme da obra que relata fielmente o livro, mostrando a sociedade de crianças que vive de maneira primitiva, contudo com regras já aprendidas anteriormente, há diversas reflexões feitas principalmente pela personagem Ralph que analisam as diferenças entre suas condições, como o que é considerado normal é relativo e instável, entre outros pensamentos. A obra formalmente é simples, mas conceitualmente avassaladora e terrivelmente atual.
Esta obra de Golding pode ser interpretada sob várias perspectivas. Como uma analogia da luta entre a democracia, na qual todos podem ter voz, mas que, por outro lado, as decisões são arrastadas e controversas, e a ditadura, na qual um tirano estabelece um sistema hierárquico baseado na punição e no medo. Entretanto, há uma mensagem mais profunda em "O Senhor das Moscas", já que ela pode representar os conflitos dentro da própria "psiquê" humana. Ralph é a consciência, porque todos seus esforços são o de manter clareza em sua fala e ações e de agir da maneira mais correta para serem resgatados; Porquinho é a racionalidade; Jack, os instintos animalescos e primitivos; Simon, a contemplação e intuição. No fundo, Golding afirma que estas contradições não existem somente no interior de uma sociedade, cujo resultado extremo é a guerra, mas também no interior de um próprio indivíduo. Além disso, se considerarmos o contexto da Guerra Fria, que na década de 1950 estava no auge, podemos enxergar um embate bastante claro proposto pelo autor entre Democracia x Ditadura (ou, se preferirem, países ocidentais x URSS) implícito no conflito de Ralph e Jack.
De forma mascarada muitas vezes nossa sociedade é regida por Mitos, Ideologias, relações de Poder, de Afeto e Emoção. O cenário selvagem da Obra não ficou isento de tais processos. Há muita semelhança do assunto tratado no livro com a teoria de Thomas Hobbes (1588-1679), expressa em O Leviatã (1651), de que "O homem é o Lobo do Homem" – para Hobbes, sem a presença do Estado (autoridade), os homens não conseguem organizar a vida social e viveriam na mais profunda barbárie, daí a necessidade do Contrato Social.
Análise do Enredo:
" Toda ação transformadora da sociedade só pode ocorrer quando os indivíduos se agrupam”. Após nomearem um líder (Ralph), suas maiores preocupações foram em manter a fogueira acesa como sinal de ajuda, e irem à busca de alimento. Ralph representa a institucionalização que tenta colocar em prática as regras cotidianas, com comportamentos esperados por uma sociedade com padrões éticos e morais. Ele então organiza o grupo, delega tarefas, implicando responsabilidades aos membros do mesmo. A ideologia predominante naquele momento é que eles seriam resgatados. Essa ordem social se cristalizada daria ao grupo um equilíbrio necessário até que fossem resgatados. O grupo adota símbolos como a concha que dá aos membros o poder da palavra, assim como a fogueira. No entanto caçar se torna uma prioridade para alguns do grupo, principalmente quando a primeira oportunidade de matar um porco falha. Devido a isso, juntamente com a luta pelo poder, atritos começam a existir. Jack um líder nato passa então a influenciar outros meninos separando a sociedade outrora instituída em dois grupos. Nesse momento outro símbolo é estabelecido, o rosto pintado agora separa os selvagens dos civilizados (eles se libertam das vergonhas e imposições sociais atrás as pinturas), originando, revolta e massacre. Jack aliena o grupo emocionalmente, sendo que o medo estabelecido pelo mito da cabeça de porco (monstro) faz com que o grupo sinta-se protegido por ele. Enquanto o que Jack oferecia era algo concreto e palpável, Ralph oferecia ao grupo o que era da ordem do abstrato, apesar da grande maioria dos meninos sentirem respeito, admiração e afeto por ele, não foi o suficiente para os manterem naquele grupo. Se observarmos outros personagens, veremos outras representações de papéis existentes na sociedade. Porquinho, por exemplo é aquele que age com maturidade em quase todos os momentos. Simom é a representação do bom, do prestativo, daquele que precisa constatar a veracidade dos fatos. Os meninos que não denunciaram o Ralph são entendidos como os que sentiam afeto por ele, porém se renderam ao grupo do Jack, pelo o que ele oferecia. Com o nascimento de outra ideologia, acreditando que não mais serão resgatados, os rapazes não reconhecem limites alguns para o que podem fazer e, consequentemente, não esperam consequências de ordem alguma, ou seja, punição pelos seus atos cometidos. Com a chegada do adulto – e o adulto é a lei eles se dão conta de suas atitudes. A necessário se viver em sociedade, sendo algo básico e possibilitando ao ser humano ser capacidade de falar, pensar e ter consciência do certo e do errado. Em suma, nosso mundo é sempre um espaço constituído de outros, formados por grupos e subgrupos."
Fontes:crítica da obra por Henry Alfred Bugalho; Lane, Sílvia; Codo ,Wanderley; Psicologia Social: O homem em movimento – São Paulo: Brasiliense, 2001
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