Ultimamente tenho postado mais resumos e comentários sobre livros do que temas relacionados diretamente à Medicina… Mas é que não resisto, quando leio um livro que me marca, sinto uma imensa vontade de compartilhar com meus internautas um pouco do que ele me passou… Então, lá vou eu em mais uma postagem sobre Livros que eu li e Amei haha…
Resenha do Livro: The Catcher in The Rye, JD Salinger
Um dos maiores clássicos da literatura norte americana é sem dúvidas o livro The Catcher in the Rye (O apanhador no campo de Centeio) do autor J.D Salinger… Foi escrito em 1950, com uma linguagem inovadora para a época e que consegue nos surpreender até hoje. O romance é narrado em primeira pessoa por Holden Caulfield – um adolescente de 17 anos que se desencontrou, revoltou-se com os valores e hipocrisia dos adultos, está deprimido …
Holden é um jovem rico e que não consegue se manter na mesma escola por muito tempo, vive sendo expulso, reprovado em diversas matérias menos em Inglês… O livro começa com a Holden contando um pouco sobre sua família e dizendo que está num local para reabilitação mental, daí começa a narrar sua expulsão de Caulfield de Pencey Prep e sua decisão de voltar para Nova Iorque, onde morava… Lá, Holden não vai direto para casa, vaga por três dias pela cidade em busca de respostas, quer ser ouvido, está em crise consigo mesmo – seu corpo começa a anunciar a proximidade com o mundo adulto, mas sua mente rejeita esse fato… quer manter a inocência, quer que o tempo não passe porque “certas coisas deveriam manter-se do jeito que estão”, quer ser “o apanhador no campo de centeio”…
O romance não se funda em grandes ações, tipo cinematográficas, até porque o narrador declara odiar os filmes, fala que Hollywood é a prostituição dos bons escritores (como seu irmão)… Os filmes são falsos, como as relações sociais e convenções do mundo dos adultos… O foco da narrativa é o fluxo de pensamento de Holden, como que esse adolescente deprimido vai analisando e criticando tudo ao seu redor, por vezes se contradizendo… nessa sua jornada por Nova Iorque encontra com vários personagens simbólicos: um taxista, duas freiras, uma prostituta, uma criança cantando na calçada, sua irmã mais nova… Com todos Holden tenta um contato, quer se abrir e os únicos que lhe dão alguma atenção são as crianças (incluindo sua irmão) e um professor com intenções suspeitas, o que contribui para o sentimento de desencontro que ele sofre.
Outro ponto importante no livro é a simbologia, as cenas são aparentemente simples, mas cheias de significado psicológico… Um exemplo é o Chapéu de caçador vermelho (Red Hunting Hat) que o nosso anti-herói usa nos momentos de insegurança (como quando briga com seu colega de quarto)… Ele se sente protegido ao usá-lo, mas ao mesmo tempo tem vergonha de ser visto com ele por adultos.. Seu Hunting Hat é simbolo de sua alienação, porque o protege e o faz sentir-se único…
Além disso, como a história é contada em primeira pessoa temos que pensar que: ele era um Holden vivendo os fatos narrados e é outro Holden quando os conta, talvez não tão amadurecido, mas um que conseguiu se fazer ouvir e fazer o seu leitor se importar ou se envolver de alguma maneira em seu dilema. Através da linguagem vemos um distanciamento do narrador dos fatos que vivenciou – ele usa muito “você” quando na verdade queria dizer “eu”, por exemplo quando fala que “quando você segurava as mãos Jane, você era feliz e nada mais importava”; o tempo verbal também denuncia esse distanciamento…
Frases e Trechos Simbólicos em “The Catcher in the Rye”
-> o desencontro e irritação de Holden
“Life is a game, boy. Life is a game that one plays according to the rules” (Teacher)
“Yes, sir. I know it is. I know it” Game, my ass, some game. If you get on the side where all the hot shots are, then it’s a game, all right, I’ll admit that. But if you get on the other side, where there aren’t any hot shots, then what’s a game about it? Nothing. No game. (Holden)
People always think something’s all true, I don’t give a damn.
“Boy” I said. I also say “Boy!” quite a lot. Partly because I have a lousy vocabulary and partly because I act quite young for my age sometimes.
All the athletic bastards stuck together. In every school I’ve gone to, all the athletic bastards stick together.
“You ought to go to a boys’ school sometime. Try it sometime,” I said. “It’s full of phonies, and all you do is study so that you can learn enough to be smart enough to be able to buy a goddam Cadillac some day, and you have to keep making believe you give a damn if the football team loses, and all you do is talk about girls and liquor and sex all day, and everybody sticks together in these dirty little goddam cliques.
People always clap for the wrong things. If I were a piano player, I’d play it in the goddam closet.
É legal como que a linguagem de Holden é tipicamente adolescente, cheia de exageros nas expressões
I’m always saying “Glad to’ve met you” to somebody I’m not at all glad I met. If you want to stay alive, you have to say that stuff, though.
In New York, boy, money really talks – I’m not kidding.
Goddam money. It always ends up making you blue as hell.
-> Conflito com a passagem do Tempo, as Mudanças na vida
I was wondering where the ducks went when the lagoon got all icy and frozen over. I wondered if some guy came in a truck and took them away a zoo or something. Or if they jusr flew away.
Essa fixação sobre os patos é um símbolo de sua resistência à mudança ao crescimento. Ele quer ser manter como é, mas os patos provam que temos que nos adaptar ao meio, que as vezes temos que mudar para sobreviver… Ao mesmo tempo, os patos retornam depois, o que oferece alguma esperança.
Certain things they should stay the way they are. You … ought to be able to stick them in one of those big glass cases and just Leave them alone. I know that’s impossible, but it’s too bad anyway.
“The best thing, though, in that museum was that everything always stayed right where it was. Nobody’d move. You could go there a hundred thousand times, and that Eskimo would still be just finished catching those two fish, the birds would still be on their way south, the deers would still be drinking out of that water hole, with their pretty antlers and they’re pretty, skinny legs, and that squaw with the naked bosom would still be weaving that same blanket. Nobody’s be different.
The only thing that would be different would be you. Not that you’d be so much older or anything. It wouldn’t be that, exactly. You’d just be different, that’s all. You’d have an overcoat this time. Or the kid that was your partner in line the last time had got scarlet fever and you’d have a new partner. Or you’d have a substitute taking the class, instead of Miss Aigletinger. Or you’d heard your mother and father having a terrific fight in the bathroom. Or you’d just passed by one of those puddles in the street with gasoline rainbows in them. I mean you’d be different in some way—I can’t explain what I mean. And even if I could, I’m not sure I’d feel like it.”
Essa passagem do museu é uma das que eu mais gosto e uma das mais simbólicas do fato de Holden querer que o tempo não passe, que ele não perca a inocência… As coisas do museu não mudam, ficam preservadas num vidro sempre iguais, mas as pessoas são diferentes a cada dia…
-> Sexualidade e Amor
Women kill me. They really do. I don’t mean I’m over sexed or anything like that – although I’m quite sexy. I just like them, I mean. They’re always leaving their goddam bags in the middle of the aisle.
She knocked me out, though. She was sort of muckle-mouthed. I mean when she was talking and git excited about something, her mouth sort of went in about fifty directions, her lipsd and all. That killed me.
I was way early when I got there, so I just sat down on one of those leather couches right near the clock in the lobby and watched the girls. A lot of schools were home for vacation already, and there were about a million girls sitting and standing around waiting for their dates to show up. Girls with their legs crossed, girls with their legs not crossed, girls with terrific legs, girls with lousy legs, girls that looked like swell girls, girls that looked like they’d be bitches if you knew them. It was really nice sightseeing, if you know what I mean. In a way, it was sort of depressing, too, because you kept wondering what the hell would happen to all of them. When they got out of school and college, I mean. You figured most of them would probably marry dopey guys. Guys that always talk about how many miles they get to a gallon in their goddam cars. Guys that get sore and childish as hell if you beat them at golf, or even just some stupid game like ping-pong. Guys that are very mean. Guys that never read books. Guys that are very boring — but I have to be careful about that. I mean about calling certain guys bores. I don’t understand boring guys. I really don’t.
After you neck them (girls) for a while, you can really watch them losing thier brains. You take a girl when she really gets passionate, she just hasn’t any brains.
“If you had a million years to do it in, you couldn’t rub out even half the “Fuck you” signs in the world. It’s impossible.”
->Outras Frases:
What I like best is a book that’s at least funny once in a while (…) What really knocks me out is a book that, when you’re all done reading it, you wish the author that wrote it was a terrific friend of yours and you could call him up on the phone whenever you felt like it.
I mean how do you know what you are going to do till you do it? The awnser is, you don’t.
I went over and took a look at my stupid face in the mirror. You never saw such gore in your life. I had blood all over my mouth and chin and even on my pajamas and bath robe. I partly scared me and it partly fascinated me. All that blood and all sort of made me look tough.
“It’s funny. All you have to do is say something nobody understands and they’ll do practically anything you want them to.”
I was damn near bawling, I felt so damn happy, if you want to know the truth. I don’t know why. It was just that she looked so damn nice, the way she kept going around and around, in her blue coat and all. God, I wish you could’ve been there.
Nessa passagem, no penúltimo capítulo, Holden vê sua irmãzinha Phoebe no Carrossel… Este é realmente o único momento que Holden diz que está feliz em toda a novela. Assistindo Phoebe, ele parece perceber sobre o quê a vida é? Tentar? manter algum tipo de inocência, mesmo quando tudo parece realmente ruim? Encontrar pequenos momentos de conexão com as pessoas?
*São muitos os temas do Livro, mas não consegui colocar todos aqui de uma maneira organizada… Os símbolos da relação que ele tem com Jane, do amor e importancia da irmã Phoebe, sua conversa com um professor antigo, a morte do irmão Allie, o suicídio de um colega de quarto… Mas para quem leu o livro e quiser comentar aqui no Blog sobre os pontos de destaque para si, sua análise algum trecho ou opinião geral mesmo, sinta-se a vontade em mandar pelos comentários!!
* Fica a dica: Assistir os vídeos do Canal Vlogbrothers do escritor John Green, no qual ele explica muito sobre a linguagem, as imagens e temas importantes de “The Catcher in the Rye”.
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Comentários
Ver comentários (2)
Bianca,
Primeiramente, gostaria de parabenizá-la pelo blog! Você faz um incrível trabalho de escrever não apenas sobre temas que interessam estudantes de medicina e vestibulandos, como resumos de matérias e dicas de estudos, mas também sobre assuntos que são importantes para todos, como literatura, arte e reflexões diversas! Por favor, continue postando sempre! E eu sempre irei ler seus textos! Sou, verdadeiramente, seu maior fã!!
Agora sobre o livro: " The Catcher in The Rye" é, sem dúvida, um dos meus livros favoritos de todos os tempos. Um dos motivos é ele tratar de um tema universal e relevante (a perda da inocência e a passagem para a vida adulta) de uma forma acessível e simples, quase despretensiosamente. Como você diz em sua resenha, "o romance não se funda em grandes ações". Se formos contar o enredo do livro para alguém, provavelmente terminaremos em poucos minutos. Paradoxalmente a essa aparente simplicidade, no livro encontram-se cenas tão memoráveis e impactantes que é até difícil de se explicar por qual motivo tais passagens conseguem nos emocionar ou nos fazer refletir tanto.
Sua resenha cita muitos das principais simbologias presentes no livro. Realmente, uma das que mais chama a atenção e me impressiona é a do Red Hunting Hat. Eu concordo totalmente com você quando diz que Holden se sente protegido e único ao usá-lo. Eu também acho que o chapéu representa a própria inocência do protagonista lutando contra as inevitáveis responsabilidades da vida adulta que ele terá que assumir em algum momento. Para eu dizer isso, eu me baseio principalmente na cena do carrossel. Nela, há muitos aspectos simbólicos. Um dos principais é a chuva. A chuva, na minha opinião, representa essas responsabilidades. Phoebe dizer "It's raining. It's starting to rain." é como se fosse um aviso ou presságio de que o momento para Holden admitir que não é mais uma criança está próximo. Holden diz "My Hunting Hat really gave me a lot of protection, in a way, BUT I GOT SOAKED ANYWAY". Essa passagem mostra que Holden sabe que por mais que ele tente se proteger com sua inocência(Red Hunting Hat), ele não consiguirá escapar da vida adulta(Chuva). Na mesma cena há um pequeno diálogo entre os irmãos que, para mim, é um dos melhores do livro inteiro e que representa tudo o que eu estou falando: Holden pergunta se Phoebe quer o Chapéu vermelho dele... Ela responde "You can wear it a while.".
Acho que o livro tem todos os aspectos que definem um clássico literário. Uns dos mais importantes são a sua universalidade e atemporalidade. Isso o torna, como eu já disse, acessível para quem quiser ler. Todos os leitores têm a possibilidade de se identificar com algo de "The Catcher in the Rye". Assim, Eu acredito que qualquer pessoa devesse ler o livro, seja para amá-lo ou odiá-lo. Não apenas por ser um clássico da literatura mundial. Mas porque todos deveríamos refletir um pouco sobre o tema da obra uma vez que a necessidade de um amadurecimento imposta pela sociedade e a transcição para a vida adulta são aspectos que permeiam a essência de todo e qualquer ser humano.
Obrigada Fabio, pelos elogios (por ser meu fã, me apoiar e incentivar a fazer mais postagens) e também pelo seu comentário tão profundo e detalhado...
Eu nunca tinha pensando sobre o simbolismo que você falou na cena do carrossel, a chuva sendo a vida adulta, os desafios e responsabilidades que Holden teria que enfrentar ao deixar a inocência, a adolescência...
Concordo que o "Catcher" é um desses livros que todos temos que ler uma vez na vida, ele nos marca seja porque seu personagem principal ter nos conquistado a simpatia, seja porque em algum momento nós nos identifiquemos com os dilemas dele, ou mesmo, como você disse, porque alguém o odeie... Sua universalidade, linguagem livre, humor e ironia, críticas são alguns dos elementos que fazem desse um livro muito rico!