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Viagens na Minha Terra – Almeida Garrett, Resumo, Características Livro

O Livro Viagens na minha Terra de Almeida Garrett é uma das Novas Obras Literárias que entraram na Lista da Fuvest e Unicamp, além de outros importantes vestibulares. Trata-se de um Romance que segue uma lógica bem distinta das leituras cobradas até então, pois envolve muito a História de Portugal (Revolução Liberal), conta um Romance (entre Carlos e Joaninha) e apresenta críticas pessoais do autor em relação à situação da Sociedade e Política portuguesas da época (seculo XIX), a partir de uma viagem que Garrett faz de Lisboa até Santarém (seguindo o rio Tejo acima).

Para ajudar os vestibulandos que, como eu, devem ter se desesperado ao se deparar com uma Obra de entendimento complexo (vocabulário difícil, muitas referências históricas e intertextualidade com obras de Homero, Camões, Shakespeare e outros), fiz um resumo do Livro Viagens (…) bem completo.

Aqui você vai poder ler a Resenha da viagem narrada, os locais por onde o autor passou e a síntese de seus pensamentos e reflexões, bem como trechos e explicações, características da obra e comentários críticos sobre o livro ( fundados em sites literários como o Jayrus.art.br).

Contexto Histórico

Para entender os conflitos pelos quais o autor se depara, e que são a base de toda a sua crítica e tese, é primordial compreender a fase Histórica que Portugal vivencia na época descrita – A Revolução Liberal.

De um modo geral, as Ideias liberais surgiram em oposição à monarquia absoluta, ao mercantilismo, e às diversas formas de ortodoxia religiosa e clericalismo. Isso levou o clero a declarar que a a revolução era “inimiga do trono e do altar”. Em Portugal, o patriotismo identificava ­se com o anti­liberalismo e tradicionalismo católico, assim qualquer tendência progressista era considerada como anti­nacional.

Nesta época havia uma disputa politico-ideológica entre os Conservadores (Absolutistas) e os Liberais (Constitucionais) que foi antecedida por uma grande crise (invasões francesas napoleônicas e crise do colonialismo no Brasil o qual fora elevado a condição de Reino Unido a Portugal apos a Vinda da Família Real).

A Situação portuguesa se agrava, e em 1830 culminou com uma Guerra Civil (pela reação Monárquica Absolutista que não aceitava as restrições ao poder régio) em que opunham-se Partido Constitucionalista (liderado pela Rainha D.ª Maria II e o Imperador D. Pedro I) e o Partido Tradicionalista (liderado por D. Miguel I), terminando com a vitoria Liberal.

Características da Obra e Trechos com Comentários 

* Romance publicado em 1846, no contexto da Escola Literária do Romantismo, embora, como o próprio autor diz em sua narrativa, o livro não se enquadra nos princípios estilísticos e temática românticas (apenas a narrativa da Menina dos Rouxinóis é  exceção – estoria trágica de amor).

* Possui gênero textual híbrido, pois é composto de relatos autobiográficos, anotações da viagem que o autor realiza, crônica histórica e social, reflexões literárias e filosóficas, além de Novela sentimental (utilizada no final da obra como base para uma conclusão baseada em comparações – Frade x Barão; Faces do progresso).

* Almeida Garrett aparece na obra em primeira pessoa, como narrador participante (relata seu ponto de vista, opiniões, suas experiências ao visitar pontos históricos das cidades portuguesas como Igrejas, ruínas, túmulos de personalidades famosas e santos, entre outros).

* O Livro apresenta elementos originais e inovadores para o período, sendo considerado um marco para a posterior prosa moderna portuguesa, como Eça de Queiros fará. Isso deve-se`a mistura de estilos e linguagem (ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática), ressaltando a vivacidade de expressões e imagens, e pelo tom oralizante do narrador.

* O autor faz diversas Digressões sobre vários temas – constituem em divagações sobre, ou não, o tema que vinha discutindo, criando analogias e reflexões que enriquecem e dão originalidade `a obra. Segue alguns exemplos de Digressões do autor em Viagens (..), abaixo temos uma analogia entre o coração humano e o estômago:

Trecho do Cap 11: O coração humano é como o estômago humano, não pode estar vazio, precisa de alimento sempre: são e generoso só as afeições lho podem dar; o ódio, a inveja e toda a outra paixão má é estímulo que só irrita mas não sustenta. Se a razão e a moral nos mandam abster destas paixões, se as quimeras filosóficas, ou outras, nos vedarem aquelas, que alimento dareis ao coração, que há de ele fazer? Gastar-se sobre si mesmo, consumir-se… Altera-se a vida, apressa-se a dissolução moral da existência, a saúde da alma é impossível.

O que pode viver assim, vive para fazer mal ou para não fazer nada. Ora o que não ama, que não ama apaixonadamente, seu filho se o tem, sua mãe se a conserva, ou a mulher que prefere a todas, esse homem é o tal, e Deus me livre dele. Sobretudo que não escreva: há de ser um maçador terrível.

* Almeida Garrett faz crítica ao modo de produção da Literatura Romântica (Receita para fazer literatura da época), não se considerando um autor romântico, pois esse estilo é, por ele, visto como uma Incoerência Inexplicável [“A sociedade é materialista; e a literatura, que é a expressão da sociedade, é toda excessivamente e abundantemente espiritualista.”].

Trecho do Cap V: “Sim, leitor benévolo, e por esta ocasião vou te explicar como nós hoje em dia fazemos a nossa literatura. Já não me importa guardar segredo; depois desta desgraça não me importa já nada. Saberás pois, ó leitor, como nós outros fazemos o que te fazemos ler.

Trata-se de um romance, de um drama — cuidas que vamos estudar a história, a natureza, os monumentos, as pinturas, os sepulcros, os edifícios, as memórias da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós o somos. Desenhar caracteres e situações do vivo na natureza, colori-los das cores verdadeiras da história… isso é trabalho difícil, longo, delicado, exige um estudo, um talento, e sobretudo um tato!…

Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico. Todo o drama e todo o romance precisa de: Uma ou duas damas. Um pai. Dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos. Um criado velho. Um monstro, encarregado de fazer as maldades. Vários tratantes, e algumas pessoas capazes para intermédios. Ora bem; vai-se aos figurinos franceses de Dumas, de Eug. Sue, de Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada um deles, as figuras que precisa, gruda-as sobre uma folha de papel da cor da moda, verde, pardo, azul — como fazem as raparigas inglesas aos seus álbuns e scraapbooks, forma com elas os grupos e situações que lhe parece; não importa que sejam mais ou menos disparatados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se um pouco de nomes e de palavrões velhos; com os nomes crismam-se os figurões, com os palavrões iluminaram…(estilo de pintor pintamonos). E aqui está como nós fazemos a nossa literatura original.”

* Observa-se acima, como em toda a Obra, o Diálogo intenso que o autor trava com seus leitores (esse traço sera retomado por, nada mais nada menos que, Machado de Assis no Realismo Brasileiro). O Narrador, por vezes, questiona o leitor, outras alerta-o sobre o que falou ou sobre o drama de Joaninha, e mais.

* Percebe-se intensa Metalinguagem, em que o A. comenta sobre como escreve. Um desses episódios ocorre apos o A. divagar e inspirar-se em versos, memorias e as paisagens portuguesas:

” Isto pensava, isto escrevo; isto tinha n’alma; isto vai no papel: que doutro modo não sei escrever”

“Se ainda te cansas dessas quimeras, dou-te conselho que voltes a pagina obnóxia, porque estas reflexões do ultimo capitulo são tão deslocadas no meu livro como tudo mais neste mundo.”

* Ha’ forte Intertextualidade, pois cita-se diversos nomes da literatura e arte internacionais, como Camões (no cap 26 falando sobre Os Lusíadas), Homero, Xavier  de Maistre (em sua Obra prima – Viagens `a Roda do Meu Quarto – que inclusive inspirou o A. para escrever suas Viagens). Fala do Reformador Iconoclasta Duarte Nunes (criticado por ter destruído toda a poética das Historias de Portugal em suas Crônicas), entre outros.

Trecho do Cap 3, em que cita Shakespeare” There are more things in heaven and earth, Horatio. Than are dreamt of in your philosophy.”

Historia de Joaninha, A Menina dos Rouxinóis

Personagens: Joaninha (dos olhos verdes) e Carlos (primos criados juntos no Vale de Santarém), D. Francisca (avo velha e cega), Frei Dinis (amargo e  rígido – tornou-se franciscano para “expiar” seus pecados e erros – no fim descobre-se que trata-se do pai de Carlos), Georgina (noiva inglesa de Carlos).

A Novela trata dos temas do plano sentimental (amores e relações familiares) de Carlos, o oficial liberal, com o plano político (Guerra Civil e Liberais) da problemática de “filhos lutando contra pais e contra os valores que estes representavam”. Joaninha, com seus olhos verdes (aos quais é dedicada uma página de louvores), representa a pureza da vida campestre, limpa da corrupção citadina, impoluta na sua mente ingênua.

Carlos reencontra-se com sua família, durante a guerra, e se apaixona por sua prima, porem perante a sujidade que a vida das grandes cidades já lhe entranhara na alma, renuncia ao seu amor (os últimos capítulos foram dedicados `a carta final de Carlos). No fim, ele perde seus ideais, moralmente “suicida-se”, tornando-­se  materialista,  o “barão” politiqueiro,  rico  e gordo.

No final do Livro o A. utiliza-se da Metalepse (encontro do autor com a sua ficção – o autor torna-se parte da narração, conversa com as personagens e ate lê a Carta de Carlos).

Análise : pela simbologia Frei Dinis representa o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho, absolutista; Carlos representa o espírito renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.

Críticas e Comparações de Almeida Garrett no Livro “Viagens na Minha Terra”

* Em todo o livro ha’ o tom de crítica `a situação de Portugal, de Santarém – suas ruínas, monumentos, etc – que enfrentam um descaso e regressão, pois refletem a beleza da historia do passado (mesmo que sem cuidados), mas não são presente e trazem presságios sobre o futuro.

* Compara Santarém a um Livro com a mais interessante e mais poética crônica, mas cujo povo recebeu-o como brinquedo e esta’ a mutila-lo.

* Crítica aos governos e `a politica dos barões – cujo objetivo é “corromper a moral do povo, sofismar o sistema representativo”.

* Passagem do Pinhal de Azambuja: Autor desaponta-se ao passar por la’, não o reconhece como o Pinhal afamado (era conhecido pelo perigo que existia ao atravessa-lo – pela ladroagem e assaltos). Esse trecho pode ser considerado uma crítica `a nova forma de exploração “menos visível, que são os desvios da corrupção e não mas roubos” .

* Paradoxo do Progresso: em que os “frades” e os “barões”, quais Dom Quixote e  Sancho Pança, respectivamente, tomam as rédeas do país e incutem o progresso. Os “frades” representam o conservadorismo, a tradição, os velhos e inquebráveis costumes. Os “barões” são os usurariamente revolucionários, entregam-se ao vício e a demagogia. Um sem o outro não existem, um sem o outro não fazem o país caminhar.

Nesse contraste reflete sobre a formação do Estado Nacional Português, em que a os Frades uniram-se ao despotismo, e depois vieram os barões que “são a moléstia deste seculo” e são “muito mais daninho bicho e roedor”.

* Reflexão sobre a Marcha da Civilização que é dirigida pelo “cavaleiro da Mancha, Dom Quixote, e por seu escudeiro, Sancho Pança”. O Progresso possui duas faces, a Espiritualista (representada por Quixote, das grandes teorias abstratas), e a Materialista (representada por Sancho, que crê serem Utopias as teorias).

* A. vê a sociedade como “complicada de regras, mas desvairada” que teria invertido as palavras de Deus que “formou o homem, e o pôs num paraíso de delicias; tornou a forma-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices”

* No Cap 41 e 42, o A. cansa-se de Santarém “Portugal (…) que te envileceram e degradaram, nação que tudo perdeste, até os padrões da tua historia’ . Faz também crítica a cobiça e profanação, citando Jesus Cristo, que perdoou o matador, a adultera, ao blasfemo, sofreu injustiças, mas ” quando viu os barões a agiotar dentro do templo, não se pode conter, pegou num azorrague e zurziu-os sem dor.”

* A Viagem para o Ribatejo simboliza mais do que a parte física e breve (Lisboa – Santarém; Santarém – Lisboa), mas atravessou toda a alma de um país, numa marcha sobre o progresso social e politico de Portugal.

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Bianca: Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!

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