Estudante de Medicina Bianca

Histoplasmose – Quadro Clínico e Diagnóstico, Micose Sistêmica

Hoje vou compartilhar com vocês um resuminho sobre uma doença que tive na matéria de Moléstias Infecciosas da minha faculdade, a Histoplasmose! Estou no quarto ano da faculdade de Medicina e nessa matéria a gente revisa muito de disciplinas básicas como Imunologia e Microbiologia e aplicamos os conceitos na Clínica das doenças infecciosas, por isso vou escrever sobre o quadro clínico, sintomas e um pouco da fisiopatologia da Histoplasmose.

Histoplasmose

O que é Histoplasmose? 

Doença causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, tratando-se de uma Micose sistêmica, ou seja, a infecção do fungo não fica restrita à pele (como as micoses mais comuns), mas pode atingir todo o organismo. O fungo vive no ambiente, principalmente em solo rico em fezes de morcegos e aves, assim os potenciais locais de contato com o histoplasma são: galinheiros; pombais; cavernas; túneis, prédios e minas abandonados. 

O fungo Histoplasma é encontrado majoritariamente nas regiões do leste dos Estados Unidos (região dos vales dos rios Ohio e Mississippi), mas também está presente em partes da América Central, África e Australia.

Agente Causador – Fungo Histoplasma

O Histoplasma capsulatum é um fungo, portanto um microorganismo Eucarionte de estrutura e fisiologia mais complexa que Bactérias e Vírus. Trata-se de um fungo dimórfico que cresce saprofiticamente na forma filamentosa no solo, mas que ao infectar o ser humano assume a forma de levedura (dimorfismo térmico). Essa espécie de fungo é um parasita intracelular que pode sobreviver no interior de células fagocíticas. Existem algumas variedade dentro dessa espécie e que causam diferentes apresentações clínicas de micose:

  • H. capsulatum var. capsulatum – Histoplasmose (clássica)
  • H. capsulatum var. duboisii – Histoplasmose Africana 
  • H. capsulatum var. farciminosum – Linfangite epizoótica eqüina, doença restrita a Europa, Ásia e África. 

Transmissão e Patogenses da Histoplasmose

Tudo começa com a inalação dos conídeos (esporos do fungo na forma de bolor) presentes no solo após a movimentação dos fungos nos dejetos (exemplo clássico: infecção no momento em que se está varrendo o local). O esporo inalado vai para o alveolo pulmonar e uma infecção localizada se inicia, os fungos são fagocitados pelas células de defesa, Macrófago e Neutrófilo, e nesse momento passam para a forma de levedura parasita intracelular. As células de defesa podem levar para os linfonodos hilares e mediatinais os fungos englobados, promovendo e facilitando a disseminação do Histoplasma pelos órgãos do corpo. Após algumas semanas, as celulas T sensibilizadas por antígenos do Histoplasma ativam macrófagos que nesse momento são capazes de eliminar o fungo intracelular. 

Histoplasmose2

A maioria das pessoas imunocompetentes não desenvolve sintomas mesmo com essa resposta primária á infecção, algumas desenvolvem uma forma branda apenas com sintomas inespecíficos e autolimitados (tosse, fraqueza etc), mas outras pessoas com fatores predisponentes (imunosuprimidos, crianças e idosos, por exemplo) podem evoluir para uma forma mais grave de Histoplasmose. Assim, estão envolvidos na patogênse também a quantidade de esporos inalada e a resposta imune do hospedeiro.

Manifestações clínicas da Histoplasmose

Há diferentes formas e quadros clínicos dependendo da situação do sistema imune de cada indivíduo, dentre os quadros temos:

  • Forma Aguda; sintomas inespecíficos semelhantes ao de uma gripe, incluindo febre, tosse, fatiga, desconforto no peito. Os sintomas aparecem após 3 a 17 dias de contato com o fungo, são autolimitados. Na radiogradia é achado infiltrado intersticial nodular em um ou mais lobos.
  • Forma Crônica: doença progressiva caracterizada por cavitações pulmonares e sintomas que mimetizam a Tuberculose (hemoptise, febre, perda de peso, tosse produtiva). Acomete principalmente homens acima dos 50 anos e que apresentam Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Na rediografia são achados comuns: infiltrados pumonares uni ou multilobulares com cavitações e extensa fibrose nos lobos inferiores.
  • Forma do Imunossuprimido ou Disseminada: acomete principalmente pessoas com CD4 baixo, crianças lactentes, pessoas com doenças hematológicas e transplantados. Há a presença de lesões extra-pulmonares e extra-ganglionar mediastínica, com disseminação para órgãos como fígado, baço, linfonodos extra-regionais e medula óssea, resultando em perda de peso, hepatomegalia e esplenomegalia, febre e anemia. Há a forma fatal que é hiper aguda, cursando com choque, além de uma mais Crônica com evolução em meses.

Como é feito o Diagnóstico?

O diagnóstico é feito pelo isolamento do agente causador, num exame micológico direto que evidencie leveduras (células ovais unibrotantes com um halo refringente ao redor que corresponde à parede celular, localizadas dentro de macrófagos) ou em Cultura (apesar de ser padrão ouro é muito demorada – semanas). Pode-se fazer um exame anáto-patológico de uma biópsia; Sorologias e Detecção de antígeno do Histoplasma.

Macrófago com Histoplasma - Fonte: health.auckland.ac.nz

Macrófago com Histoplasma – Fonte: health.auckland.ac.nz

Controle e Prevenção 

  • Limpeza regular dos locais com potencial para se tornar uma fonte de infecção, utilizando máscaras e luvas, como galinheiros, celeiros, forros de construções;
  • evitar exposição própria e dos animais a locais contaminados, com acúmulo de excretas, que podem representar uma fonte de infecção;
  • realizar a desinfecção dos locais potencialmente infectados com formalina 3% (utilizando máscara e luvas).

Espero que o resumo seja útil e tenha ajudado a esclarecer um pouco sobre essa doença infecciosa. Se tiverem dúvidas ou comentários, podem escrever aqui para o Blog!

Comente Via FaceBook

Comentários




Sobre o autor | Website

Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

1 Comentário

  1. Débora Venditto disse:

    Olá Dra. Bianca!
    Sou mãe de um menininho hoje pestes a fazer 4 anos que contraiu a histoplasmose, conseguimos fechar o diagnóstico após 3 meses de muitos exames e internações quando ele tinha 1 ano e meio.
    Ele tratou com Itraconazol durante mais de um ano e hoje está bem, come bem, ganha peso normal , não apresenta mais a infecção mas tenho dúvidas sobre ele estar realmente curado. Confesso que tenho muito medo…
    Gostei muito da sua publicação sobre esse assunto , será que poderíamos conversar mesmo que por e-mail?
    Parabéns pelo artigo
    Débora

Por gentileza, se deseja alterar o arquivo do rodapé,
entre em contato com o suporte.