Literatura e Arte Bianca

Livro “O Lobo do Mar” de Jack London – Análise da Obra e Trechos

"O Lobo do Mar" foi o último livro que li desde o começo das aulas de 2016, apesar da correria da faculdade fui lendo aos poucos durante meus trajetos de casa para a faculdade.

Gostei muito dessa obra que mistura romance, aventura e reflexões filosóficas sobre o sentido da vida e do valor do ser humano. Achei interessante de compartilhar aqui no ABC da Medicina, porque fala muito sobre o entendimento do homem no mundo e o final do livro traz o tema da morte e da fraqueza gerada pela doença. Espero que gostem da Resenha, da breve biografia do autor e dos comentários sobre sua obra que vou colocar aqui no Blog!!

Capa Martin Claret

Capa Martin Claret

Sinopse do Livro: O Lobo do Mar

"O Lobo do Mar é uma das obras-primas de Jack London. Influenciado pelas ideologias de Marx, Darwin e Nietzsche, Jack London cria, nesta soberba história, a abismal luta entre o bem e o mal. A rigorosa análise psicológica das situações e dos personagens faz com que O Lobo do Mar transcenda o mero romance de aventuras.

O Lobo do Mar; escrito em 1904, na plenitude da força criativa do autor, tornou-se um clássico no gênero e foi traduzido para quase todas as línguas. O romance narra a história do poderoso e brutal comandante de um navio, Lobo Larsen" Fonte Coleção Obra-Prima de Cada Autor, Martin Claret

Sobre o Autor – Jack London

Jack London é o pseudônimo de John Griffit, que nasceu em San Francisco, Califórnia em 1876 e morreu em 1916. Quando pesquisei sobre a vida desse autor, descobri que ele fora um homem muito sofrido e que teve uma história de vida cheia de aventuras dignas de livros de ficção.

Filho de uma família pobre cujo pai saiu de casa quando soube que a mulher estava grávida e depois negou a paternidade, teve uma infância terrivelmente difícil. Abandonou os estudos aos 14 anos para trabalhar, aos 17 anos era trabalhador em barcos de caça a focas e pesca de ostras. Mais para frente, com um grupo de jovens, entrava clandestinamente em trens que cruzavam os EUA, sendo preso em 1894 por vagabundagem. Depois disso, participou na Corrida do Ouro em Klondike, Canadá. 

Com sua infância sacrificada, a adolescência rebelde e a experiência na prisão, Jack London tornou-se socialista. Decidiu deixar de lado o poder do músculo e se dedicar ao trabalho do cérebro, tornando-se escritor. Seu primeiro conto, The son of the wolf (1900), descreve a luta de um homem num meio hostil, e fez grande sucesso desde o seu lançamento. Seus romances manifestam quase sempre o conflito entre o acentuado individualismo do autor e seus anseios por reformas sociais. Outras obras publicadas são: White Fang (Caninos Brancos) (1906); Adventure (1911;The Scarlet Plague (1912): trad. portuguesa: A Praga Escarlate); The Star Rover (O Andarilho das Estrelas) (1915); Jerry of the Islands(1917); Hearts of Three (1920). – Fonte Bibliografia do site Tiro de Letra.

Jack London

Jack London

Resenha e Análise do Livro "O Lobo do Mar"

O Livro começa quando um navio de passeio, o Martinez, que vinha dos Estados Unidos acaba colidindo com outro navio no Oceano pacífico. Quem nos conta a história é Humphrey Van Weyden, um jovem rico e poeta que viajava a bordo do Martinez e que, após o naufrágio, é resgatado por um navio de caçadores de focas. O capitão do navio, Lobo Larsen, se recusa a leva-lo de volta ao litoral e anuncia Humphrey terá que fazer toda a viagem da temporada de caça com seus marujos (que durará meses) e, além disso, para ser tripulante do seu barco é preciso trabalhar a bordo! O jovem fica estarrecido, mas ou aceita essa imposição ou será lançado de volta ao mar. Num dado momento da conversação, Lobo Larsen pergunta qual a sua ocupação e sustento, e Humphrey diz que era um gentleman e que nada fazia para ganhar a vida, apenas usufruía da herança e posto elevado dos pais – dessa maneira o jovem é direcionado a auxiliar na cozinha. A partir daí, inicia-se uma incrível aventura!!

O jovem, apelidado pelo capitão de Hump, sofre vários dias até conseguir se adaptar minimamente ao trabalho braçal, suas mãos sangram e ele tem que lutar para se defender de investidas de outros marujos. Ao mesmo tempo em que vai se acostumando com a rotina a bordo, Humphrey vai analisando a fundo cada personagem que habita aquele lugar e vai aprendendo muito mais sobre a vida e sobre si mesmo.

Como vamos percebendo a cada momento na leitura, o capitão Lobo Larsen não tem esse nome à toa, trata-se de um homem terrível dotado de uma força brutal que o faz dominar seus tripulantes muito a base do medo e da violência. Porém tal homem, por mais contraditório que pareça a princípio, possui amplo conhecimento da filosofia, literatura e ciências. Humphrey descobre em Larsen um filósofo, capaz de questionar qualquer crença e defender com fortes argumentos o seu ponto de vista: de que não existe divindade e nem alma, apenas o corpo finito e animal. 

A todo o momento travam-se diálogos entre Lobo Larsen e Humphrey sobre diversos temas humanos: a sociedade, religião, cultura e valores que regem o homem. Um dos principais pontos de discussão é o da natureza humana, o jovem poeta defende que somente as elevações do espírito e valores puramente bons e corretos para o coletivo são o que fazem um homem de valor. Já Lobo Larsen acredita apenas na força natural do corpo e nos seus interesses individualistas, pois deles advêm o poder e as ações legítimas do homem – para exemplificar, ele usa uma comparação bem clara em que o homem seria como uma levedura que luta para crescer em meio a outras leveduras, que por mais aspirações que possa ter, a mais essencial e verdadeira é seu instinto de sobrevivência!

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Aos poucos, Humphrey ganha confiança do capitão e vai mudando de posto no navio. Isso ocorre também devido a várias baixas na tripulação que ocorrem tanto por perdas ao mar quanto por mortes após lutas entre os marujos – muitas delas cometidas pelo terrível capitão como que para provar sua força dominadora. Ao ser analisado pelos olhos do poeta, Lobo Larsen tem momentos em que lampeja uma luz mortal e animal que o leva à violência, seu corpo tem uma força enorme, seus movimentos são como os de um tigre atacando as presas.

Em um dado momento da viagem com destino ao Japão, o navio se depara com outros náufragos – uma jovem mulher e seu criado num bote – os quais são resgatados. Após meses longe da sociedade e da convivência com as mulheres, Humphrey encontra reencontra todo o encanto e espiritualidade que antes o motivava a viver! A brutalidade na qual estava inserido e estava se misturando um pouco a sua essência (ele dizia que começava a “enxergar vermelho”) refreou-se. A jovem chamava-se Maud e quando ele descobre que ela também é uma jovem poetisa conhecida sua apenas pelos textos, encanta-se ainda mais e por fim se apaixona.

Não irei me delongar quanto ao final do livro, pois muitos podem não tê-lo lido ainda… Mas posso adiantar que seguem ocorrendo muitas aventuras, discussões de cunho filosófico sobre o Bem e o Mal, se há Vida Eterna etc. Em um dado momento, a questão da fragilidade humana frente a uma doença terminal é abordada e mostrando tanto como a enfermidade é potencialmente destruidora das forças do homem quanto os sentimentos por ela gerados nos cuidadores. O livro não nos traz respostas a esses questionamentos citados, nem aponta um posicionamento sobre quem está certo, os dois lados mostram seus argumentos – o Materialismo de Lobo Larsen e o Espiritualismo de Humphrey! Mas podemos perceber que ao final da aventura, após tantas provações físicas e psicológicas, o jovem poeta sente-se mais vivo e forte, sente-se mais sábio sobre si e sobre o mundo.

Trechos e Frases Marcantes 

"Quem o sustenta? insistiu. Quem conquistou essa renda? Seu pai, com certeza, e você vive sobre as pernas dum homem já falecido. Nunca obteve nada pelo esforço próprio. Não sabe cavar a vida, se o largarem só." –  Perguntas do capitão Larsen para o jovem quando o resgata.

"O método da prova consistia em afirmar, negar, impor. Provam que um filhote de foca nasce ou não nasce sabendo nadar pela afirmação ou negação com belicosa e violência, ou com ataques contra o oponente. (…) Recordo isto para mostrar o calibre mental dos homens com os quais estava em contato." – reflexões de Humphrey sobre os marujos.

"Penso que a vida é confusão (..) é como um fermento, uma levedura que se move por um minuto, uma hora, um ano, um século, um milênio, mas que por fim terá paralisados os movimentos. Para manter-se em movimento , o grande come o pequeno. Para manter-se forte o forte come o fraco. O que tem sorte prolonga o seu movimento por mais tempo – eis tudo. Vivem por amor do estômago e o estômago neles funciona para mantê-los em vidda. É um ciclo vicioso. Não conduz a nada." – Materialismo de Lobo Larsen e sua incredulidade na imortalidade e elevação de espírito do homem.

"E Larsen permanecia ali, oscilando o corpo ao sabor dos balanços da escuna, a face brônzea a reluzir, a cabeça ereta e dominadora, os olhos dourados e masculinos" – descrição do capitão Lobo Larsen e sua postura forte e imponente."

Livro "O Lobo do Mar"

Livro “O Lobo do Mar”

"Responsabilidade daquele vulto era coisa inédita na minha vida. Lobo Larsen tinha razão. Eu vivera a maior parte da minha vida sobre as pernas de meu pai (…) Responsabilidade nenhuma, de coisa nenhuma, me coubera até o momento do meu embarque no "Martinez". A "Ghost" ensinara-me tudo. Ensinara-me a arcar com responsabilidades." – fala de Humphrey quando assume o aprendizado que teve a bordo doo navio.

"O homem  que havia em Larsen não mudara. Sempre o terrível, o indomável Lobo Larsen, mas agora aprisionado dentro duma carne que morria. Aquela mesma carne gloriosa e esplêndida de tempos atrás o emparedava na imobilidade, segregando-o do mundo que lhe fora um permanente tumulto de ação." – momento em que o capitão adoece.

Espero que tenham gostado da postagem, se não leram o Livro fica a dica de leitura! Até a próxima…

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Comentários




Sobre o autor | Website

Sou estudante do 6º ano de Medicina na Faculdade de Medicina da USP, blogueira desde 2012 quando fazia Cursinho pré-vestibular. Também participo do Vlog Mediários, um canal do You tube!

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2 Comentários

  1. Oriovaldo Pellizzaro Cordeiro disse:

    Bom dia Bianca…casualmente acessei esta página e confesso, estranhei que uma estudante de medicina tenha comentários tão bons sobre livros que, não esperava, despertassem interesse nos leitores de hoje. Sua análise sobre "Lobo do Mar" está perfeita…é fantástico…Sou professor de história do médio e, assim como você, tenho imensa estima pelos livros e pela literatura. Como o assunto medicina na literatura também me chama a atenção, e pelo que pude perceberi, você também se interessa por estes assuntos (afinal vc é estudante de medicina), então resolvi se não se importa, te enviar umas dicas de livros ligados a este assunto que, são bem antigos mas ainda podem ser encontrados e que são simplesmente fabulosos. Se você se der ao trabalho de pesquisar em algum sebo, eu sempre os encontro os meus no site "Estante Virtual". Segue algumas dicas que tenho certeza, vão te trazer muito sobre a medicina antiga e atual, tanto no aspecto da sua prática, como também no seu desenvolvimento histórico e ético. Você sabia, por exemplo, que a anestesia foi descoberta por acaso, por um dentista numa apresentação de circo itinerante? Bom…me perdoe se eu estiver chovendo no molhado…talvez já tenha lido alguns dos livros que seguem abaixo, mas se não leu, não perca a oportunidade por que valem à pena…precisamos de bons médicos e penso que,  a cura do ser humano vai muito além da prática de técnicas modernas, mas também está relacionada a  um conjunto de conhecimentos que vem de muito antes de nós termos nascido. Aposto que você também pensa assim e fico feliz por isso… Segue lista então e mais uma vez, peço desculpas se já leu algum deles.

    1) Amado e Glorioso Médico – Taylor Caldwell (a história romanceada de São Lucas, que foi médico é claro; simplesmente estupendo);

    2) O Egípcio – Mika Waltari – (É fantástico – relata a história de um médico egípcio chamado Sinuê);

    3) O século dos cirurgiões – ( Jürgen Thorwald);

    4) Olhai os Lírios do Campo – Érico Veríssimo (Esse você deve conhecer – vale pelo aspecto humano da medicina);

    5) O médico do demônio – Philip Baal (Retrata a história e a figura de Paracelso – um alquimista que viveu a transição da medicina alquímica da Idade Média dando os primeiros passos para o que chamamos de medicina moderna, se é que naquele tempo se podia dizer isso).

    6) Em busca de Merlim (este não li ainda, mas a sinopse me chamou atenção – esta na minha lista de aquisições);

    Enfim, espero que aprecie a lista. A maioria deles, como eu disse, comprei em sebos virtuais, pois não existem edições novas.

    Abraço e boa leitura!!!

    Professor Oriovaldo P. Cordeiro/ Flores da Cunha/ RS

     

     

     

     

    • Bianca disse:

      Olá, Oriovaldo!!

      Muito obrigada pela visita e pelo seu comentário, fico feliz em saber que mais pessoas se interessam por esses temas que comentei no post, por livros antigos e que mesmo assim nos trazem tantas reflexos e aprendizados! Eu também sou apaixonada por história da Medicina e por livros que retratam esse progresso, nem dá para acreditar que evoluimos tanto e tudo por descobertas ao acaso e outras por experimentos e avanços da ciência! Inclusive tenho que me esforçar para postar mais dessas curiosidades da História da Medicina, sempre foi uma plano que tive para o Blog, mas a vida é muito corrida …

      Nossa, eu adorei as indicações, viu, ainda mais vindas de um professor de História!! Desses que você comentou eu já li “Olhai os Lírios do Campo”, realmente muito bom! Mas não conhecia os outros não, já anotei aqui no meu caderninho de futuras leituras =D  Eu sou uma verdadeira traça de sebo haha e gosto muito do site Estante Virtual, já comprei muitos livros por lá!! 

      Obrigada novamente por tudo e pelas dicas, sempre que quiser voltar ao Blog ficarei feliz com sua visita! Grande abraço, Bianca!

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